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13/02/2025

Tarifaço promovido por Donald Trump pode ter algum impacto no Brasil? Entenda

Brasil pode aproveitar o cenário como estratégia comercial, porém, pode se prejudicar caso seja taxado pelo país norte-americano

O recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acabou criando uma guerra tarifária após impor tributos de 25% sobre produtos importados do Canadá e do México, e de 10% sobre produtos chineses.

Essa postura econômica não é surpresa para a comunidade mundial, tendo em mente seu primeiro governo e as promessas feitas durante a campanha eleitoral para as eleições do ano passado.

Em retaliação, a China anunciou que vai aplicar uma tarifa de 10% a 15% em petróleo, gás natural, maquinário agrícola e outros itens originados nos EUA.

Por outro lado, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, prometeram ações para conter a entrada de imigrantes nas fronteiras, o que fez o republicano congelar a tributação por um mês.

Com as últimas repercussões, ainda existe incerteza em relação aos próximos passos do presidente norte-americano, e o Brasil tem interesse nos desdobramentos desse conflito por ter os Estados Unidos como um dos maiores parceiros no comércio internacional.

Para especialistas consultados pelo R7, não há indícios concretos de que o Brasil esteja no alvo da taxação, pois os EUA são superavitários na balança comercial. Ou seja, eles vendem mais produtos para o Brasil do que compram.

O diretor de relações governamentais e comércio internacional da BMJ Consultores Associados, José Pimenta, afirma que esse posicionamento reflete a declaração de Trump de que o Brasil depende mais dos EUA do que o contrário. Entretanto, ele pontua que o país pode entrar na mira caso a pauta avance.

Oportunidade comercial

Mesmo em um panorama incerto, estudiosos avaliam que o Brasil pode aproveitar o “tarifaço” e se posicionar de forma estratégica no mercado. O advogado e especialista em direito tributário Carlos Crosara projeta que, com a sobretaxação, pode haver um déficit de produtos fornecidos pelo Canadá e México, e o Brasil pode se inserir para suprir o aumento dessa demanda.

O país poderia exportar produtos semelhantes ou até melhores do que os mexicanos e canadenses, com uma tributação mais baixa. Dessa forma, o Brasil poderia se beneficiar dessa situação, tornando-se uma alternativa competitiva no mercado internacional, pelo menos por enquanto. (Advogado e especialista em direito tributário Carlos Crosara)

Para o CEO da Sinergy Advisors, estrategista e arquiteto em desenvolvimento de negócios, Gustavo Valente, a guerra comercial deve ser vista como positiva e estratégica para incentivar o desenvolvimento de cadeias produtivas locais e reduzir a dependência em importações. Por exemplo, a produção brasileira de hidrogênio verde tem destaque, mas depende de tecnologia do exterior.

O Brasil poderia encarar isso como oportunidade para desenvolver fornecedores locais para o setor, como sugere o especialista.

Pela avaliação de Pimenta, a longo prazo, o país também pode aproveitar o acordo recém-firmado do Mercosul com a União Europeia para diversificar fontes de suprimento e o destino de suas importações. Já a curto prazo, discussões existentes para ampliar e criar acordos bilaterais de comércio com México e Canadá podem representar janelas de oportunidade únicas.

“Em 2016, no primeiro mandato Trump, o Brasil viveu um ‘boom’ de crescimento de exportações de commodities agrícolas, algo que pode ser vivido novamente, caso bem aproveitado”, afirma.

Brics fortalecido

Ao serem questionados sobre o estado dos Brics em meio à guerra comercial, os especialistas indicaram que há a possibilidade de o grupo se fortalecer a partir da postura isolacionista de Trump em relação aos países do bloco Norte.

Valente destaca o crescimento da China como oportunidade para consolidar os Brics a partir da diversificação de parceiros comerciais e relações mais intensas com os outros membros do bloco econômico.

A China vem exercendo uma função de credora global, socorrendo diversos países que tomam endividamento com instituições chinesas, e com isso amplia sua influência em diversos países, ocupando o papel que tradicionalmente é feito pelos EUA e o FMI (Fundo Monetário Internacional). (Estrategista e arquiteto em desenvolvimento de negócios Gustavo Valente)

Desde 2023, os países do bloco (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Indonésia, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes) têm debatido acerca do uso de uma moeda alternativa ao dólar para transações financeiras entre os integrantes.

Trump reagiu e ameaçou tarifá-los em 100% caso criassem uma moeda única.

Em 31 de janeiro, o Kremlin, sede do governo russo, rebateu Trump. Em comunicado, disse que nunca esteve nos planos dos Brics criar uma nova moeda, mas criar plataformas de investimento em conjunto, o que é incentivado pelo presidente Lula.

Para Pimenta, as políticas econômicas atuais dos EUA podem enfraquecer o dólar, e isso favoreceria a agenda dos Brics de reduzir a dependência na moeda americano.

Porém, ele explica que o bloco pode enfrentar sanções econômicas se esse plano avançar, pois, para Trump, ele representa uma ameaça à ordem econômica internacional fundamentada no dólar, com os Estados Unidos no centro do sistema vigente.

E se o Brasil for taxado?

Nos últimos dias, o Brasil foi mencionado em declarações de Trump e classificado como um grande taxador, além de ter sido listado como um dos países que querem prejudicar os Estados Unidos.

Por esse motivo, especialistas alertam que, mesmo que fora da mira de Trump no momento, o Brasil não pode ficar totalmente despreocupado.

Em resposta, o presidente Lula afirmou que aplicaria o princípio da reciprocidade. Logo, taxaria os EUA de volta, assim como a Colômbia, que impôs tarifas às importações dos Estados Unidos após Trump anunciar tributos de 25% em cima de produtos colombianos. No momento, os dois países derrubaram as medidas após entrarem em acordo.

O economista Marcos Hanna avalia que a fala do presidente brasileiro é natural e não gera preocupações. Ele afirma que o país não vai se abster de tomar uma posição e, nesse cenário, aplicar a contra-tarifa é uma reação comum.

Ao antecipar o cenário de uma possível taxação mútua, Hanna prevê que o Brasil seria mais prejudicado que os Estados Unidos. Ele explica que o país norte-americano considera o Brasil como parceiro essencial para a manutenção da cadeia produtiva dele, principalmente ao fornecer petróleo, aeronaves por meio da Embraer, peças para esses veículos e aço.

Entretanto, os EUA teriam uma vasta gama de países que poderiam substituir o Brasil nesse âmbito, o que não garantiria uma posição de segurança.

No curto prazo, teria um dano mútuo, mas, no longo prazo, os Estados Unidos têm mais capacidade de se adaptar nesse cenário, buscar outros parceiros comerciais. O Brasil sairia pior numa situação de guerra tarifária entre Brasil e Estados Unidos. (Economista Marcos Hanna)

Os setores mais prejudicados seriam os de tecnologia, eletrônicos, produtos farmacêuticos e químicos, automotivo, máquinas e equipamentos industriais, segundo Valente. Isso porque os custos de importação aumentariam com a instabilidade do câmbio decorrente dos tributos recíprocos.

Pimenta afirma que, nesse panorama, o governo brasileiro teria que desenvolver uma resposta estratégica para amenizar consequências negativas na economia nacional, como o aumento da inflação e redução do poder de compra da população.

Fonte: Portal R7

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